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Foto do escritorFlávia Barros

Por que é tão difícil sair de uma relação abusiva? 


Quando percebemos que uma pessoa amada está numa relação tóxica, queremos ajudar. Queremos que a pessoa saia dessa situação. No entanto, é comum que a vítima tente se desvincular, mas acabe retomando a relação. 


Quando acompanhamos de fora, tendemos a achar que a pessoa não valorizou nosso esforço para ajudá-la ou até que ela gosta da situação de violência em que se encontra. Por frustração, nos afastamos e ela fica cada vez mais isolada, com a rede de apoio fragilizada. Mais uma vez culpamos a vítima. 


Então por que é tão difícil se desvincular de uma relação abusiva?


Esse tipo de relação segue uma dinâmica cíclica padrão composta por três estágios: a lua de mel - momento em que a relação é tranquila, declarações de amor são feitas, as idealizações e fantasias de relação romântica são nutridas. Então caminha-se para o estágio de tensão - no qual iniciam-se conflitos, discussões, desentendimentos - que desencadeia no estágio da agressão - no qual algum tipo de violência é cometida, seja verbal, psicológica, física, sexual ou patrimonial. Então vem remorso que leva ao estágio da lua de mel novamente - no qual há arrependimento, pedidos de desculpas, promessas de melhora e declarações de amor. Seguindo o ciclo: lua de mel >> aumento da tensão >> agressão >> lua de mel … E assim por diante.


Na psicologia comportamental, esse fenômeno é compreendido como reforço intermitente: quando um estímulo prazeroso é apresentado ora sim, ora não. Então ficamos na espera desse estímulo, independente do quanto demore para aparecer. Não se sabe quando o estímulo será apresentado. E quando acontece, a percepção de recompensa é ativada.


Nem sempre a vítima vive a relação idealizada na fase da lua de mel, mas quando acontece, ela se sente recompensada a ponto de minimizar a violência vivida. Isso, somado a uma baixa autoestima, uma rede de apoio possivelmente frágil e outros fatores de vulnerabilidade tornam o processo de desvinculação extremamente desafiador. 


Por isso, não leve para o pessoal quando uma pessoa querida retomar uma relação tóxica. Ela não está desvalorizando seu cuidado e muito menos gosta de ser violentada. Ela precisa fortalecer seus recursos emocionais para depender cada vez menos da recompensa prazerosa que o estágio de lua de mel oferece. Assim, ela poderá enxergar a relação como de fato é, sem idealizações, fantasias ou projeções. 


Na medida das suas possibilidades, seja fonte de acolhimento para essa pessoa. Sem diminuir ou julgar as decisões que ela toma. Fale sobre suas próprias percepções e sobre suas preocupações, com respeito e com amorosidade. Por exemplo: ao invés de dizer "Você não pode voltar com seu companheiro! Ele é uma pessoa ruim." Podemos dizer "Fico preocupada quando você está com ele, pois tenho receio de que sofra uma agressão." Assim, ela pode perceber em você um ponto de apoio e reconhecer uma relação sem violência. 


É importante também que a vítima saiba o que é agressão. Pois muita gente acha que violência é apenas agressão física e não sabe que gritos, xingamentos, chantagem, ridicularização, manipulação também são formas de violência. Na Lei Maria da Penha temos 5 formas tipificadas. São elas:

  1. Violência Física: conduta que ameace a integridade física da vítima como tapa, empurrão, pontapé, agressão com objeto cortante etc..

  2. Violência Psicológica: conduta que cause dano emocional ou diminuição da autoestima da vítima com intuito de degradar ou controlar suas ações como ameaça, chantagem, perseguição, humilhação, ridicularização, violação de intimidade, isolamento, entre outros.

  3. Violência Moral: conduta difamatória, caluniosa ou injuriosa. Entendido como atribuir fato criminoso à vitima, xingar, ofender ou atribuir à vítima fato ofensivo a sua reputação.

  4. Violência Patrimonial: retenção, subtração ou destruição (total ou parcial) de bens da vítima.

  5. Violência Sexual: conduta que constranja a vítima a presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada, seja por meio de coação, chantagem, ameaça, intimidação ou uso da força física.


Importante lembrar que violência sexual continua sendo uma violência ainda que o agressor seja seu marido, noivo, namorado ou parceiro. Além disso, não precisa ter uso de força física para ser violência. Qualquer tipo de coação que constranja a vítima a manter uma relação não desejada já é violência sexual.


Informação e rede de apoio salvam vidas.


Para situações graves de agressão ou situações em que a vida de alguém esteja em risco, disque 180. A ligação é gratuita e as denúncias podem ser feitas anonimamente. 


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