No mundo do pré-natal muito se fala sobre o plano de parto, mas você já ouviu falar sobre o plano de puerpério?
O puerpério é aquele momento logo após o nascimento do bebê. Quando os hormônios no corpo da pessoa que pariu estão oscilando bastante, o que leva a uma oscilação de humor também. O útero está voltando ao seu tamanho, os órgãos internos estão voltando ao lugar. Dá-se início à amamentação, o bebê começa a aprender a mamar, enquanto a pessoa lactante também se adapta àquele novo serzinho que depende dela. É uma fase com privação de sono, uma vez que bebês dormem poucas horas seguidas no início de suas vidas. Além de todo o cuidado que demandam. O bebê está se adaptando ao mundo, assim como a família também está se adaptando a ele. São muitas experiências novas para se acostumar.
Por isso, é um período extremamente delicado e que exige cuidados e preparação. Na medicina e na enfermagem, o puerpério dura 40 dias depois do parto - que é o tempo que os órgãos internos levam para voltar para o lugar. Já na psicologia, não existe um tempo determinado, visto que cada pessoa e cada família tomará um tempo singular para se adaptar às mudanças psicossociais implicadas na chegada de um filho ou uma filha.
Por isso, é importante atentar-se para o estado emocional da pessoa puérpera. Pois, nesse período de grande instabilidade emocional, a pessoa fica vulnerável a adoecimentos psíquicos como baby blues, depressão perinatal e em casos mais graves de psicose puerperal.
O baby blues (ou blues puerperal) se caracteriza por uma grande preocupação com o bem estar do bebê acompanhada de sentimento de insuficiência ou impotência para supri-lo. Uma grande autocobrança com fragilização da autoestima acompanhada de melancolia. Essa condição é muito comum, estima-se que cerca de 80% de pessoas puérperas passarão por essa experiência, que tende a se resolver com poucas intervenções. Rede de apoio fortalecida e terapia são suficientes.
Por outro lado, a depressão perinatal já apresenta um risco maior. Ela tende a apresentar sinais desde a gestação e se intensifica durante o puerpério. A depressão perinatal se caracteriza por falta de motivação na vida, baixa autoestima, elevado nível de autocobrança, dificuldade de se vincular afetivamente com o bebê (falar manhês e brincar), o cuidado passa a ser mecânico e - ao contrário do que muitos acreditam - a pessoa puérpera depressiva não apresenta risco ao bebê, mas sim para si mesma. Pensamentos de auto extermínio podem se apresentar. Por isso, é importante se atentar aos sinais e procurar ajuda profissional.
Já a psicose puerperal é um descolamento da realidade. A pessoa puérpera apresenta sintomas de delírio e/ou alucinação, dificuldade de vinculação com bebê e pode apresentar risco à criança. Dependendo da gravidade do caso, pode ser necessário o afastamento do bebê até que o quadro se estabilize. Na psicose, o acolhimento profissional é imprescindível e o tratamento envolve uma equipe multidisciplinar para tratar tanto o quadro psicológico quanto para construir estratégias de proteção do aleitamento neonatal.
Os desafios do puerpério são inúmeros, por isso, algumas pessoas se referem a esse período como powerpério. Pois é nesse momento que reconhecem em si uma grande potência para dar conta de lidar com tanta coisa. Para amenizar essa sobrecarga, podemos traçar algumas estratégias como o plano de puerpério e o fortalecimento da rede de apoio pessoal e profissional.
Mas afinal, o que é um plano de puerpério?
Sabendo que cuidar de um recém-nascido já é um grande desafio por si só, é importante que a pessoa puérpera possa contar com uma boa rede de apoio para questões práticas do cotidiano. Por exemplo: quem ficará responsável pela comida da casa? E pela limpeza? Como ficará a rotina dos irmãos mais velhos? Já frequentam a escola? Quem os leva? E as visitas para conhecer o novo membro da família? A partir de que momento elas serão bem-vindas? E se algo sair do previsto, quem pode ajudar nas emergências? São muitas perguntas para se pensar no momento em que está com as emoções instáveis, o cansaço acumulado e o corpo cheio de desconfortos.
Por isso, é recomendado que durante o pré-natal seja feito um plano, no qual as questões práticas do cotidiano são pensadas com antecedência. Esse plano pode ser construído com a ajuda de uma doula, parteira ou consultora de amamentação. Essas profissionais podem te orientar sobre questões importantes de se organizar. Também é proveitoso pegar dicas com famílias que acabaram de passar por um puerpério. Elas terão sugestões valiosíssimas sobre o que priorizar nesse momento. Mas é importante lembrar que cada família vivenciará essa experiência de maneira singular, então busque sugestões, mas não se prenda à experiência alheia. Experimente o que faz sentido para você.
Da mesma forma, o plano de puerpério não serve para te engessar em regras de como viver esse momento, mas para te oferecer um caminho e para que você saiba como se adaptar aos desafios dessa experiência. Afinal, aliviar a sobrecarga mental da pessoa puérpera é também cuidar de sua saúde mental.
Quer saber mais sobre como cuidar da saúde mental na gestação e no puerpério? Agende um horário e experimente se enxergar com gentileza.
Vamos juntes?
Flávia Barros.
Psicóloga e Doula.
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